sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Apresentação no FILTE - Festival Latino-Americano de Teatro na Bahia


Em setembro de 2009 tivemos a alegria de participar do II FILTE -Festival Latino-Americano de Teatro da Bahia, extraordinária iniciativa de Luis Alonso (diretor) e Rafael Magalhães (produtor do Festival), tornada possível graças ao trabalho insano dos idealizadores e de seu grupo, o Oco Teatro.
Uma por outra - histórias de Arthur Azevedo apresentou-se no Cabaré do Teatro Vila Velha nos dias 05 e 06 de setembro.







Filte - Festival Latino Americano de Teatro da Bahia


Raimundo Matos fala sobre a montagem

Segunda versão do cartaz do espetáculo
(programação visual de Pedro Rodrigues)


Em agosto de 2007 fomos presenteados com um generoso texto sobre o espetáculo escrito por Raimundo Matos de Leão (Doutor em teatro e homem de teatro), do qual reproduzimos, com permissão do autor, alguns trechos. Para os interessados, o texto pode ser encontrado na íntegra no blog Cenadiária (http://cenadiaria.blogspot.com/) - que deve ser visitado, pela qualidade da reflexão que Raimundo Matos desenvolve.



“(...) Conforme o texto do programa, a proposta de “usar a cena para contar o conto” visa “preservar o humor e a inteligência do texto, utilizando-os para provocar no público o encantamento que todos nós sentimos ao ouvir uma boa história”. É isso que o pocket espetáculo oferece. Aliada a essa qualidade – contar uma boa história – juntam-se a mestria do elenco, o despojamento da encenação, sua coloquialidade aproximando a cena do espectador, o jogo inventivo entre os intérpretes e uma dose das propostas brechtianas; tudo isso torna a cena encantadora. O clima de sarau se estabelece desde o momento em que elenco recebe o público fazendo-o ingressar na sala, em cujo palco encontram-se os músicos. É visível a reação da platéia; ela se rende aos poucos à magia do teatro e à sua capacidade de fazer com que o “clima de alegre nostalgia” dos saraus de antigamente prevaleça. Assim, instaura-se a comunicação maravilhosa entre os atores, músicos e espectadores.

A cena, em seu despojamento cenográfico, (...) serve de moldura para os atores. Neles está a graça da encenação. Dominando o seu ofício, os intérpretes se encarregam dos personagens e das canções; e fazem isso bem. Passam dos gestos sutis para os largos, habilidosamente. Da mesma maneira, mostram, pelo jogo facial, as expressões que completam e enriquecem as palavras.

Vestidos pela figurinista Renata Cardoso, (...) os intérpretes, quando não estão no centro da cena, esperam sentados o momento de assumirem a ação que lhes cabe no roteiro bem construído. A opção da figurinista pelo preto e branco, combinando tecidos lisos e estampados, quebra a possível monotonia que essa escolha poderia acarretar. Os figurinos obedecem ao traço de época e são complementados por adereços vermelhos: lenços, leque, envelopes, cartões com fotografias e um revólver, pequenos pontos quentes que surgem para dinamizar a mescla do preto e do branco em cada roupa.

(...) Vale à pena ir ao Teatro Gamboa para apreciar o trabalho dos intérpretes, também professores da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, e o que eles fizeram com material escolhido para trabalhar sob a direção de Daniel Marques. O diretor soube imprimir leveza e agilidade, equilibrando os momentos de exacerbada comicidade com a delicadeza de certos momentos provocadores de sorrisos e não de gargalhadas. (...)"

Publicado no blog Cenadiária em 07 de agosto de 2008

Segunda temporada de Uma por outra - histórias de Arthur Azevedo

Gláucio Machado, Jacyan Castilho, Daniel Marques e Angela Reis


Jacyan Castilho e Gláucio Machado


Gláucio Machado e Daniel Marques



Angela Reis e Gláucio Machado

Maurício Azevedo e Vanessa Melo



Todas as fotos são de Felipe Botelho

Com a saída de Monize Moura, Samanta Olm, Ubiratã Trindade (que, após se formarem no Bacharelado em Interpretação na Escola de Teatro da UFBA, partiram para São Paulo) e também de Mariane do Carmo, Uma por outra voltou ao cartaz em 2008, no Teatro Gamboa, em homenagem ao centenário da morte de Arthur Azevedo, com Jacyan Castilho e Gláucio Machado no elenco e com Vanessa Melo na clarineta.

Primeira temporada de Uma por outra - histórias de Arthur Azevedo

Daniel Marques, Samanta Olm e Angela Reis


Daniel Marques e Angela Reis


Monize Moura e Samanta Olm


Monize Moura e Ubiratã Trindade


Samanta Olm, Angela Reis e Monize Moura



Angela Reis e Monize Moura


Maurício Azevedo e Mariane do Carmo




O elenco

Todas as fotos são de João Meirelles



Uma por outra estreou em setembro de 2007 na Escola de Belas Artes da UFBA.
Por sua atuação, Monize Moura foi indicada ao Prêmio Braskem de Teatro 2007 na categoria Melhor Atriz.


Ficha técnica

Elenco: Angela Reis
Daniel Marques
Monize Moura
Samanta Olm
Ubiratã Trindade

Músicos: Maurício Azevedo e Mariane Santos do Carmo

Direção: Daniel Marques
Direção Musical: Maurício Azevedo
Figurinos e maquiagem: Renata Cardoso
Assistência de figurinos e maquiagem: Samanta Olm

Costureira: Irá Moutinho
Programação visual: Pedro Rodrigues
Fotos: João Meirelles
Produção executiva: Fabiana Monsalú
Produção: Fraternal Companhia

Logo da Fraternal Cia: Fábio Pinheiro

Uma por outra - histórias de Arthur Azevedo

O espetáculo expõe, de maneira graciosa, toda a delicadeza com que este grande autor brasileiro (1855- 1908) trata as relações amorosas. A concepção de encenação do espetáculo foi determinada pela qualidade literária dos contos de Arthur Azevedo: ao invés de alterá-los, adaptando-os para a linguagem teatral, manteve-se sua forma original.
Esta proposta - usar a cena para contar o conto - tem como objetivo preservar o humor e a inteligência do texto, utilizando-os para provocar no público o encantamento que todos nós sentimos ao ouvir uma boa história. No entanto, a narrativa é passado, e o teatro é presente: ações vividas por atores/personagens em frente ao público. Desse modo, simultaneamente à narrativa, diversas imagens e situações dos contos A filha do patrão, Uma aposta, A melhor amiga, Confidências e Uma por outra são vividas pelos atores no palco.
Toda a montagem concorre para a proposta de evidenciar a beleza da linguagem de Arthur Azevedo: o palco é vazio, sem cenários fixos; adereços, cadeiras e a luz criam os espaços e ambientes onde se desenrolam as cenas. As atrizes e os atores se revezam entre todos os personagens, sem se fixarem a um único papel; todos, em diferentes momentos, se dividem entre contar a história diretamente ao público e tomar parte nas cenas simultâneas à narração. Os figurinos são baseados no vestuário da época em que se passam os contos (a virada do século XIX para o XX), recebendo, apesar da caracterização histórica, um tratamento que os torna teatrais.
O espetáculo baseia-se na idéia do teatro como convenção: firmando um pacto com a platéia, a montagem estimula o espectador a viver a história narrada / encenada através do mergulho em sua própria fantasia. Envolvido em um clima de alegre nostalgia, propiciado pela proximidade física com os atores e pela presença de um violonista e uma flautista, o público remete-se, assim, a um sarau do início do século.


As histórias
- Confidências
- Uma aposta
- Uma por outra
- A melhor amiga
- A filha do patrão


As músicas
- Isto é bom - Xisto Bahia
- Flor amorosa- Joaquim Callado e Catulo da Paixão Cearense
- Ai, ioiô - Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto
- A mulhé quando não qué – Sátiro de Melo
- Jura - Sinhô
- Isto é bom - Xisto Bahia

Sobre Arthur Azevedo


Caricatura de Arthur Azevedo (s/d)



Arthur Azevedo (s/d)


Nascido em São Luís (MA) a 07 de julho de 1855, Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo chegou ao Rio de Janeiro em 1873, empregando-se logo em seguida no jornal A Reforma, primeiro dos incontáveis periódicos em que trabalhou e nos quais exerceu inúmeras funções. Além de jornalista, foi também funcionário público durante boa parte de sua vida: tendo começado como amanuense, fez carreira no Ministério da Viação, chegando a diretor geral de contabilidade - cargo que assumiu pouco antes de sua morte, em 1908, em substituição a Machado de Assis.
Como autor teatral, Arthur Azevedo é a maior figura do seu tempo, tendo produzido uma obra volumosíssima. Entre suas inúmeras contribuições, destaca-se a implantação e consolidação no país do gênero revista-de-ano, que, sofrendo inúmeras transformações, perdurou em nossos palcos até meados do século XX e foi responsável pela criação de um rico e vigoroso mercado teatral. Verdadeiro homem de teatro, atuou em todos os campos que sua pena podia atingir: foi não apenas autor como também tradutor e crítico, além de usar, como jornalista, todos os espaços possíveis para promover o teatro brasileiro (a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por exemplo, é resultado direto de campanhas sistemáticas e metódicas que fez, durante anos, nas páginas de diversos jornais).
A intensa participação no teatro de seu tempo fez com que Décio de Almeida Prado, referência na historiografia do teatro brasileiro, qualificasse Arthur Azevedo como “o eixo em torno do qual girou o teatro brasileiro entre 1873 e 1908, ano em que morre” .

Sobre a Fraternal Companhia

A primeira Fraternal Companhia foi fundada em 1545 em Pádua, na Itália, sendo seu estatuto o primeiro registro conhecido de formação de uma trupe de comedia dell’arte. Além de marcar o início das atividades de profissionalização dos atores no Ocidente, a companhia exemplifica, de maneira inequívoca, a junção entre vida e obra dos artistas que a compunham, na medida em que a expressão “comedia dell’arte” refere-se não apenas a um oficio como também à elaboração de produtos estéticos por estes profissionais.
A nossa companhia foi fundada séculos depois, em 2007. A apropriação do nome da antecessora italiana deveu-se não apenas, obviamente, ao desejo de produzir teatro em uma estrutura grupal e fraterna, como também remete a duas crenças que norteiam nosso trabalho: a de que a prática e a teoria caminham juntas, bem como a de que o diálogo com a tradição é um caminho fecundo para a produção teatral contemporânea.
Tais certezas surgem de nossa trajetória como pesquisadores, com mestrados e/ou doutorados relacionados a temas da história do teatro brasileiro (que ensejaram a criação do Grupo de Pesquisa Tradição e contemporaneidade no teatro brasileiro), bem como da atividade de professores da graduação e da pós-graduação na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. Nosso primeiro espetáculo, Uma por outra – histórias de Arthur Azevedo, confirma não só o interesse pela pesquisa sobre o trabalho do ator e a obra (ainda não suficientemente conhecida e valorizada) de Arthur Azevedo, como nos dá a alegria de produzir teatro com companheiros queridos.

Angela Reis, Daniel Marques e Renata Cardoso